"O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente"
Confucio
Confucio
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
A Fúria de Pingo!
Sessenta centímetros de efervescência. É a melhor definição para o Pingo. O cachorro da minha vizinha.
O bicho late. Late,late,late e late!
E pula no portão, na grade, na parede, na perna!
O Pingo parece estar possuído pelo espírito de porco as vinte e quatro horas do dia.
A sua dona o solta duas ou três vezes por dia, na sua varanda. Eu, no apartamento de cima, me divirto com as peripécias do nanico.
Eu moro no segundo andar e o Pingo, logicamente, no primeiro. E ele fica alucinado com cada ser vivente que passa pela calçada. E com os não viventes, também. Sacos de plástico voando propiciam um espetáculo à parte.
Desconfio que o Pingo sofre de algum tipo de transtorno mental. Déficit de atenção, hiperatividade, ração estragada…
O fato é que o Pingo não é um cachorro comum. Ele – nunca – para.
Outro dia a sua dona mandou pintar as paredes da varanda de branco. Eu fico me perguntando o que leva uma pessoa a tal grau de masoquismo. Aquela alvura toda não durou dez segundos. Vinte, vá!
Lá, já estão carimbadas centenas, milhares de patinhas de um certo cãozinho que não compreende limites geográficos.
Eu também desconfio que o faro do Pingo não sejá lá grande coisa. Às vezes, estou refestelada na minha rede e ele não me percebe. Então, por um descuido inocente, ponho um pezinho pra fora da grade. Aí, o insano me vê e começa a latir e a pular, tresloucado, tentando subir pelas paredes.
Outro dia nos encontramos, o Pingo e eu, pelos corredores do prédio. Eu sei que o espevitado já andou se estranhando, levemente, com outro vizinho. Mas nosso encontro foi bem mais agradável.
Descobri que o nanico gosta de mim. O que me deixou muito metida à besta.
Na última reunião do condomínio o síndico veio com uma conversa de proibir cachorros no prédio e colocou a questão em pauta. Eu imaginei a minha vida, tranquila, sem os latidos metálicos do Pingo. Sem aqueles barulhinhos de patinhas nervosas, logo cedo, penetrando em ondas sonoras pelas frestas da janela do meu quarto. E sem aquela algazarra infernal que ele faz toda vez que escapa pelo corredor afora.
Meu voto à sugestão do síndico foi um sonoro não!
Meu, e o da maioria.
Afinal, foi só imaginar a minha vida sem o pestinha do Pingo pra descobrir que também gosto dele. Muito!
Nota: Esse aí na foto, obviamente, não é o Pingo. Ele autorizou a publicação do texto mas exigiu anonimato.
***
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Vivendo em São Paulo
Achou que levantando-se às cinco da manhã daria tempo de chegar à empresa às nove. Não queria (nem podia!) mais chegar atrasada ao trabalho. Tomou um banho, preparou a marmita do filho mais velho e despachou o sujeito. O maridão tava no caminho faz tempo. Pegou o leite na geladeira pra preparar o café da manhã do caçula. Abriu a embalagem, rompeu o lacre que..não abriu, só rompeu. Soltou uma praga e pegou a faca pra abrir aquela porcaria. Cortou o dedo e correu pegar o curativo. Botou o leite pra ferver, acordou o pirralho, colocou a mesa. Despachou o guri pra escola. Ufa!!!
Vestiu-se, deu um trato rapidinho no cabelo e, agora,era só andar dois quarteirões e pegar a carona com o Fernandinho. Era o dia dele. Tinha até aproveitado pra deixar o carro na revisão. Tocou o celular:
- Lena? Puxa, esqueci de te avisar, hoje não vou trabalhar..Na verdade, não avisei ninguém, he,he....Desculpa,aí....
Mais três colegas deviam estar xingando o Fernandinho agora!
Ai, meu saaaaaaaco!!! Correu pro ponto de ônibus, sem muita esperança. Morava a uma distância ingrata do trabalho. Nem tão perto que desse pra ir andando, nem tão longe que desse pra entrar no ônibus. Quando o coletivo passava pela sua região já estava lotado, com gente pendurada na porta, duvidou, saindo pela janela!
Dito e feito! Correu, então, pro ponto de táxi. Vou morrer numa grana, fazer o quê?? Pelo menos não chego atrasada, no ponto sempre tá cheio de ...vento!!! Cadê o táxi???
Esperou uns vinte minutos até que apareceu um carro branco que mais lhe parecia a carruagem encantada da Cinderela. Graças a Deus!
O motorista pegou a Marginal (reze,reze,reze!!!) e tava até indo bem quando - mais uma carreta quebrada ou tombada ou o que seja - tuuuuuuudo parado!!
O motorista sugeriu um caminho alternativo que ele conhecia muito bem...Suspiro. A corrida ia ficar mais cara...Que seja!
Entra em ruazinha, sai de ruazinha, entra em outra ruazinha...Ali a gente pega a avenida e .....xiiiiii...tá interditado.....
Mas, heim, o quê???????
Manifestação sabe-se lá do que.
Entrar em pânico ou seguir o conselho da Marta?
Resolveu meditar....Fechou os olhos e desejou viver numa ilha deserta....
Quando chegou ao prédio da empresa correu pro elevador que ficava no fundo do corredor, porque o outro tava quebrado. Já ia apertando o botão de subir....EM MANUTENÇÃO. USE A ESCADA.
Um soco no estômago doeria menos...
Finalmente, chegou ao seu cubículo. Descabelada, suada,
esbaforida, desgrenhada, uma zumbimumiaparalitica. Desabou na cadeira. Nove... e oito.
Adolf, seu chefe, passou por ela:
- Ta atrasada heim,"dona maria"...Precisa acordar mais cedo!
Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
He,he..É complicado, estressante e blá,blá,blá...Mas eu AMO esta cidade, fazer o quê?
Parabéns, São Paulo! Não deixo de apontar os seus problemas mas também morro de orgulho de sua grandeza. Posso andar o mundo todo mas é aqui que me sinto em casa...
***
sábado, 22 de janeiro de 2011
Nascidos um para o outro...
Ela queria uma ultramoderna máquina de lavar louças. Ele não queria comprar embora tivesse o dinheiro. Gostava da sensação de poder que a posição de provedor lhe garantia. Ela, então, fez uso das armas que conhecia. Greve de sexo.
Disse ao marido, claramente: não dou prá você enquanto você não me der.
Depois de um tempo desse joguinho de gato e rato, ele cedeu. Já havia se divertido o suficiente. E ela, claro, sentiu-se vitoriosa.
Saindo do shopping, satisfeitos com a nova aquisição, presenciaram nas proximidades do estacionamento, uma briga entre um cafetão e sua prostituta.
Afastaram-se cheios de nojo.
Mas que gentinha, né amor?
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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Ai, meus cabelos!
Lembra dos topetões dos anos oitenta? Os homens usavam aquele famoso corte "mullet" que, aqui no Brasil, foi imortalizado pela dupla Chitãozinho e Xororó. Aquele topete arrepiado na frente e o rabicho atrás. É, era meio ridículo mas até que no MacGyver ficava bem...
As meninas usavam aqueles cabelões armados e, pesquisando pra escrever esta crônica, descobri que o corte da Jennifer Beals em Flashdance, por exemplo, era chamado de poodle. Corte poodle. E, com todas as suas variações, eram cabelões enormes, altos, cheios de cachos e cachinhos.
Agora imagine uma moçoila de cabelos lisos-chapinha, escorridos e murchos. Imaginou? Pois é, era eu. Praticamente um shih tzu...depois
da chuva.
Ô frustração! Eu vivia encaracolando meu cabelo. Permanente,
fiz umas três. Coisa horrorosa! O cabelo ficava queimado, eriçado e...murcho. Se enrolava com bob levava uns... dez minutos para os cachinhos começarem a "escorrer".
Não tinha jeito, meus cabelos eram rebeldes à sua maneira.
No cachos, baby!
Aos quinze anos fui convidada para uma festa de debutantes,
aquela com quinze meninas segurando uma vela coisa e tal. E eu queria porque queria entopetar meu cabelo. Eu não ia ser a única escorrida da festa, bolas!
Minha mãe, já cansada dos meus chiliques diante do espelho, resolveu testar uma antiga receita que , com ela, outra escorrida, dava certo.
No dia da festa ela me apareceu com uma garrafa de cerveja. Mãe, que que ce vai fazer com esse troço?? Vou enrolar o teu cabelo com cerveja. Hein???
Ela me explicou que cerveja era um ótimo fixador. Fiquei muuuito desconfiada daquele negócio. Mas, mãe é mãe, né! Quer sempre o melhor para os rebentos, então, resolvi arriscar, confiando na palavra da mami.
Ela foi enrolando, mecha por mecha, e aquele cheiro de cerveja. Ai,ai,ai...esse negócio tá fedendo, mãe! O cheiro some, menina! Fica quieta!
O fato é que o cabelo armou. Muito. Duro. Muito duro. Parecia um ser idependente sobre a minha cabeça. E com vontade própria.
Bom, eu parecia uma...brôa de milho. Mas ficou liiindo, super na moda. E eu fui, toda prosa, com a minha brôa sobre a cabeça. E veja só, durou quase a noite toda!
Pois é, a cerveja funciona mesmo! Mas hoje em dia, eu prefiro mesmo é bebê-la ...moderadamente....
Ah, o que a gente não faz pelos cabelos. Ou contra eles!
***
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Pink Floyd e o morcego da dona Lina
The dark side of the moon.Que disco! Uma baita viagem,sem ácido.Eu,pelo menos,nunca precisei. Basta aquele solo de guitarra na faixa Time,é o suficiente pra me transportar para outras dimensões. E foi justamente ouvindo Time que voltei no tempo.Lá para os anos setenta,tempos de colégio.
Estudei por dez anos numa escola pública,um prédio enorme,parecia um museu. Tinha umas escadarias de madeira escura que rangiam quando a gente corria por elas,porões sinistros nos quais a gente se escondia pra matar aula.
Não sou muito saudosista mas, às vezes, é bom relembrar aqueles tempos.
Tempos de descobertas,deliciosa e complicada adolescência. Eu estudava no período da tarde,só meninas. Sim! Os garotos estudavam de manhã e à noite a turma era mista. Pode até parecer chato mas a gente fazia o diabo a quatro pra encontrar com os meninos. Uma das estratégias era deixar bilhetinhos na carteira,bem escondidos.Daí, no dia seguinte,se a turma da noite não achasse, o garoto que sentava no mesmo lugar pegava o bilhete,respondia e o deixava onde encontrou. Aí era só marcar o encontro,no cinema da esquina, na galeria na outra esquina ou até no pátio da igreja que ficava na mesma rua do colégio.
E tome bailinho de garagem com uma programação pra lá de eclética.De Abba a Led Zeppelin,de Raulzito a Bee Gees,muita black music,funk ,muito rock e por aí vai.
Curiosas as conexões que a nossa mente faz. Ouvir Pink Floyd me levou de volta aos bailes e festinhas,estes ao colégio,aos colegas e,finalmente,aos professores. Alguns deles,verdadeiros ícones.Gente que ajudou a moldar meu caráter. Personagens fascinantes como minha professora de canto e música. Suas aulas eram pra lá de divertidas. E ela era uma figura ímpar. Só vestia tailleur,
elegantérrima! E o seu cabelo era bem alto (muito alto!) e loiríssimo! Pensando bem,era uma mistura de Coco Chanel com Hebe Camargo. Chanel pela elegância com que se vestia e se portava e Hebe pelo cabelo e pela alegria. Eu gostava demais dela.
A professora que mais me marcou naqueles tempos foi Dona Lina. Lecionava Ciências. Uma loirinha,baixinha,cheia de energia! Dona Lina não gostava de ficar só na teoria,adorava uma experiência. Fizemos mais experiências do que o Dexter, aquele do laboratório. Dissecar bichinhos era sua paixão e nosso terror.
Lembro-me de um dia em que estávamos tendo aula de matemática com a professora Milka,quando um morcego achou de passear pelos corredores em plena luz do dia. Havia morcegos no prédio da escola e na igreja também. Os professores se trancaram nas salas com seus alunos,todos apavorados. Menos uma certa baixinha que, com a ajuda de alguns alunos corajosos, saíu à caça do pobre morcego,que acabou dissecado no laboratório!
Tenho boas lembranças dos meus professores.Gostaria de reencontrar alguns deles,saber como estão,contar da minha vida. Queria,sobretudo,agradecer. Quem sabe ? Talvez a vida ainda me faça essa surpresa!
E se alguém aí,por acaso,topar com uma senhorinha beirando os oitenta anos caçando o Conde Drácula...é a Dona Lina!
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