"O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente"



Confucio



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Lua Cheia


Ela esperou. Pacientemente. Quando teve certeza de que os pais estavam dormindo, saiu. Desceu as escadas com a mochila nas costas e uma pequena bolsa. Tentou não fazer barulho. Levava apenas o necessário. Ainda descendo os degraus, olhou para a Lua através dos imensos janelões que ladeavam a escadaria. Parou por um momento. Logo estaria com ele, sob aquele luar.
Não tinha nenhuma dúvida sobre a sua decisão, se entregaria de corpo e alma, literalmente. Caminhou pela alameda escura, as árvores filtravam o brilho prateado da Lua. Estava excitada, apaixonada e, sobretudo, deslumbrada por aquele homem. Quando soube o seu segredo não sentiu medo. A princípio não acreditou, claro. Mas ele lhe provou. Rapidamente. E rogou por seu amor. Não havia como não sucumbir, dizer não àqueles olhos...
Avistou-o a alguns metros, metido num elegante casaco. Sorriu pensando em como ele era espirituoso. Parecia uma figura saída do século XIX, achou divertido.
Aproximou-se dele e emocionou-se ao ver seu rosto, pálido. Era tão lindo! Ele pegou suas mãos e as beijou com imensa ternura:
- Por toda a eternidade, minha amada...
Ela explodia de excitação, nunca imaginara poder amar tanto uma criatura. Chegava a doer olhar para ele e lágrimas rolaram pelo seu rosto. Ele as enxugou, uma a uma.
Delicadamente, segurou seu rosto entre as mãos e a beijou. A princípio, um beijo terno, mas ela logo sentiu sua língua explorando sua boca com volúpia. As mãos desceram pelo corpo e ele a apertou contra si. Ela correspondeu ao beijo, a tudo. Pareciam fundir-se. Entorpecida,
ficou completamente entregue.
Ele, então, agarrou seus cabelos e inclinou, quase violentamente, sua cabeça e teve à sua disposição, o esguio pescoço:
- Sua... eternamente...sua...
Excitadíssima, mal conseguia respirar, aguardando o êxtase prometido. Cravou-lhe os caninos no pescoço enquanto a dominava com força brutal.
Ela sentiu uma dor lancinante, insuportável. Não entendia, tentou se desvencilhar, livrar-se daquela agonia terrível. Mas era inútil, ele a prendia, a submetia.
Começou a estrebuchar, violentamente. Perdia os sentidos por alguns instantes, voltava à consciência e implorava para que aquilo acabasse logo!
Sofreu ainda por longos minutos, sendo sugada, impiedosamente.
Ele, finalmente, a largou. Tombou sem uma gota de sangue no corpo. Sem vida. E para ela não retornaria.
Tola. Eternidade é para poucos, minha cara.
Tirou um lindo lencinho bordado do bolso do casaco e limpou a boca como quem acabara de degustar um bom vinho. Gostava daquele lenço, pertencera a uma atriz decadente, que conhecera na França, no comecinho do século XIX. Ah, bons tempos aqueles...
Caminhou satisfeito pela alameda arborizada. Olhou, ainda uma vez, para trás. Ela jazia sobre o chão coberto por folhas secas de outono. Que imagem romântica... pensou. Colocou as mãos nos bolsos, inclinou a cabeça, arqueou as sobrancelhas:
- Mas o que ela pensou? Que eu fosse amá-la por toda a eternidade sob o crepúsculo?






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