Aos setenta e nove anos dona Carlota era um exemplo de vida. Querida por todos no condomínio e em toda a vizinhança. Apesar de toda a sua fragilidade,era incansável. Ela e sua inseparável bengala de madrepérola. Os cabelos branco-azulados eram sua marca registrada.Vaidosa,não saía de casa sem seu colar de pérolas,herança de uma tia solteirona. Estava sempre de saia e casaquinho,com blusinha de babadinho por baixo. O batonzinho discreto também não podia faltar. Um charme,a dona Carlota.
Aposentada,viúva e sem filhos,despertava a compaixão dos amigos que sempre se prontificavam a lhe pagar as contas atrasadas. Nas reuniões de condomínio, dona Carlota nunca era cobrada e,com lágrimas nos olhos,agradecia tanta generosidade. Devota de Santo Antonio,estava sempre disposta a ajudar Padre Sezefredo, fosse durante as missas,na catequese das crianças,na organização do bingo.Mas o bendito reumatismo e o peso da idade não lhe permitiam ajudar como desejava,o bondoso padre sempre a dispensava das tarefas mais árduas e, apiedado de sua condição, sempre lhe reservava uma pequena parte do dinheiro arrecadado na igreja.Dona Carlota sempre dizia que era a mais feliz das criaturas por ter encontrado em sua vida pessoas tão bondosas.
Tinha também ótimas relações com os jovens do prédio onde morava que não se furtavam a carregar suas compras e alguns até dispensavam alguns minutos para escutar as histórias que ela contava,do tempo em que era mocinha,do tempo em que seu saudoso marido,o Major Ariovaldo,era vivo. Bons tempos,dizia,bons tempos...
Mas o que dona Carlota não sabia era a surpresa que os amigos lhe preparavam por conta de seu octogésimo aniversário. Fizeram uma reunião e arrecadaram entre os condôminos e paroquianos uma grande soma em dinheiro. Decidiram que o melhor era fazer uma comemoração mais simples e dar o dinheiro à dona Carlota,para que ela pudesse pôr a vida em ordem,sem precisar recorrer aos amigos para sobreviver.
Quando recebeu o cheque das mãos do síndico dona Carlota quase enfartou,nem que vivesse mais oitenta anos poderia agradecer! Foi uma noite inesquecível para todos.
Cansada porém feliz,dona Carlota despediu-se dos amigos, já era hora de velhinhos estarem na cama,brincou. Acompanhada por um cortez vizinho até à porta de seu apartamento,agradeceu mais uma vez e entrou.
Fechou a porta e na segurança do seu lar,atirou a bengala longe e se jogou no sofá. Porcaria de meião! Arrancou as botinhas e as pesadas meias e mexeu os dedos antes aprisionados,com belas e bem tratadas unhas vermelhas. Tirou aquela roupa toda e ficou só de corpete de oncinha. Colocou uma salsa pra rolar na vitrola e saiu rebolando. Tomou uma generosa dose do seu conhaque preferido.
Espichou-se em sua chaise long de veludo vermelho. Acendeu um charuto e deu uma longa tragada. Pegou seu iPhone e ligou para a irmã:
- Aí Carmela, arruma as tralhas. Vamos pra Vegas!
Oiê!
ResponderExcluirEh, eh, eh... Muito bom!
Um conto muito gostoso de se ler! Mas que "veínha" mais safada, sô!?
Abraços :)
Ôpa, deixa comigo....kkkkk..
ResponderExcluirVem muito mais por aí!!
Obrigada,Érico!!
Abraços!!