Já passei a noite de Ano Novo na praia. Puta expectativa!
Tive que correr de um balão cheio de fogos que começaram a explodir antes do
tempo. Tive que brigar com um sujeito bêbado que achou de acampar no capô do
meu carro.
Já passei a noite de Ano Novo assistindo à nauseante virada
do Faustão. Já passei a noite de Ano Novo numa autoestrada, num tráfego
infernal. Mas eu era jovem e, admito, foi até divertido.
Mas tenho boas lembranças também. Houve um tempo em que
gostei muito dessa época. Quando era criança. Quando era adolescente e escolhia
com esmero a roupa branca que iria usar.
Quando trabalhava numa loja de móveis e eletrodomésticos e adorava
aquela muvuca de Natal! Eu sempre usava a grana extra pra dar um puta
presente pra minha mãe. Lembro-me de um
ano em que eu comprei um enorme cachorro de gesso. Um pastor alemão. Ela
adorava esses trens. Não foi o presente
mais caro que eu dei pra ela, mas foi o que ela mais gostou. E o mais “divertido” foi carregar aquele troço
gigantesco dentro de um ônibus lotado num vinte e quatro de dezembro.
Foi num vinte e quatro de dezembro também que eu fui a um
shopping na última hora pra comprar presentes para os meus sobrinhos. E
disputei, literalmente, a tapa com uma senhora de cabelos brancos, o último
cachorrinho de pelúcia. Era exatamente aquele que a minha sobrinha queria. Eu o
avistei no fim de um corredor e saí correndo feito um bólido. Chegamos ao bicho
ao mesmo tempo, a senhora e eu. Nos olhamos por alguns segundos, estupefatas! E foi como se tudo parasse para um duelo a la
Sérgio Leone. Mas, eu fui mais rápida no
gatilho. Sorry darling!
E teve aquele ano em que a minha mãe temperou o carneiro com
ramos de pinheirinho pensando que era alecrim.
Estavam lá os dois vasos no jardim, lado a lado, não sei o que ela tava
tomando... Só sei que ficou ainda mais
gostoso.
Hoje, confesso, acho tudo um saco. Se pudesse, pulava o mês
de dezembro e caía de paraquedas em janeiro sem culpa nenhuma. Não vejo sentido
em tanta comemoração. Não identifico
marco de passagem nenhum. Tudo continua como sempre no dia primeiro de janeiro.
Mas quando vejo pessoas que, genuinamente, ainda acreditam.
Ainda tiram, sei lá de onde, esperança de dias melhores. Quando olho pra minha
filha e me vejo com vinte e quatro anos de idade, com tantos sonhos, com aquele
brilho no olho. Engulo o meu ceticismo e
tento me convencer que a vida dela será melhor do que a minha. Que o mundo será
mais generoso com ela. Com todos. Apesar de tudo.
Sei que amanhã vou acordar com a mesma dor de cabeça, com o
mesmo medo do futuro, mas, por hoje, vou abrir uma cerveja gelada e desejar a
todos vocês, sinceramente, um Feliz 2018. Tim-Tim!
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