Rio Grande do Pedregulho Pequeno era uma linda e típica cidadezinha do interior. E como a maioria delas,tinha uma praça e uma igreja. Nessa havia também um museu,e nele estavam Ariovaldo e seus alunos. Residentes na cidade vizinha,estavam em sua excursão escolar anual. O professor respondia,enfadonho,às poucas perguntas que as crianças faziam mas quis matar o Fernandinho quando ele perguntou: quem nasce em Rio Grande do Pedregulho Pequeno é o quê?O Fernandinho era assim...sua unha encravada.
Como o maior acervo do museu era mesmo a poeira não tardou à pirralhada começar a espirrar,alguns já se afogando na rinite.Ô porqueirada pra te alergia.
- Tá,já chega! Todo mundo prá fora. Vão,vão respirar!
Quando saíram do museu estava uma confusão na praça. Uma pequena multidão se juntava em frente à igreja. Ariovaldo juntou a molecada no coreto e mandou que ficassem lá,quietinhos. Curioso,aproximou-se da balbúrdia.Lá estavam o prefeito, o delegado,o padre,o bombeiro e até o agente funerário;este,um pouco mais ansioso do que os outros.Todos olhavam para cima. No alto da torre da igreja,uma mocinha, em pé sobre uma mureta,agarrada a dois mastros, ou pinos, sei lá o quê,ameaçava se atirar.O delegado,com um megafone,tentava convecê-la a descer. O padre a todo instante tirava o megafone do delegado e berrava,eu te perdôo! O prefeito,também fazendo uso do instrumento,já tentara de tudo; emprego prá família toda,passagem pro estrangeiro. Mas nada,nada parecia salvar a pobre alma do cruel destino.
O bombeiro,já de saco cheio daquela história,resolveu subir na torre e acabar logo com a palhaçada. Chegou lá em cima esbaforido e ainda mais irritado. Tratou logo de agarrar a fedelha pela cintura e puxá-la para dentro. Mas estava a infeliz de tal modo grudada àqueles mastros(ou pinos,sei lá) que a única coisa que ele conseguiu foi perder o capacete, a paciência e a compostura,proferindo impropérios que os pombos locais,ruborizados,negam-se até hoje a comentar.
Lá embaixo, Ariovaldo tentava achar no fundo da cachola alguma solução para o caso. Foi quando levou um chute na canela.Ferrrrnandinho...
- Tô com fome!
- Vá comer seu lanche! Trouxe lanche não?
- Vá comer seu lanche! Trouxe lanche não?
- Já comi!
- Então não é fome,é gula! Chispa daqui,anda!Cruzou os braços emburrado,olhando prá cima. Outro chute :
- O que éééé´!! -esbravejou.
- Tô vendo a calcinha dela.
- Tô vendo a calcinha dela.
- Ô seu moleque,volta já prá....- foi quando uma lâmpada acendeu-se sobre sua cabeça,um raio de genialidade perfurou-lhe os miolos e,no mais ousado e bravio ato de sua vida; com a velocidade dum pumã,a astúcia duma raposa, arrancou o megafone das mãos do padre e disparou:
- Tô vendo tua calcinha! Tô vendo tua calcinha!
Horrorizada, a quase petrificada criatura soltou as mãos para levá-las à boca. Antes que a infame despencasse da torre o bombeiro laçou-lhe pela cintura.Te peguei sua filha duma égua!
A turba aplaudiu ensandecida enquanto o agente funerário foi-se embora cabisbaixo.
Há hoje, em Rio Grande do Pedregulho Pequeno, um lindo monumento em homenagem a Ariovaldo.
Mas pro Fernandinho,nada.
Mas pro Fernandinho,nada.